Quando não respeitamos o corpo e insistimos em forçar um alinhamento que embora consideremos ser o mais correto para uma determinada posição, não o é para o nosso corpo, estamos a afastar-nos de um dos propósitos do yoga, que é a expansão da consciência. Não podemos expandir a consciência quando permitimos que o ego construa âncoras que nos prendem a ideais desajustados de perfeição. Deixamos de estar receptivos àquilo que está para além das camadas mais densas do nosso corpo e que cada posição faz vibrar de uma maneira muito particular, focando-nos apenas em atingir a forma ideal, correndo o risco de no final atingir uma forma oca e sem substância, vazia de consciência.

O alinhamento base é um ponto de partida, uma referência fundamental para estabelecermos o estado vibratório que caracteriza aquela determinada posição. Contudo para estabelecermos esse estado vibratório, precisamos de um instrumento e esse instrumento é o nosso corpo, e assim como a vibração gerada por um violoncelo a tocar uma determinada nota é diferente no que diz respeito ao timbre da vibração gerada por um violino a tocar essa mesma nota, também diferentes corpos a reproduzir uma determinada posição, podem chegar ao mesmo estado vibratório mas com pernas e braços de comprimentos diferentes. Tomemos como exemplo o fémur, o osso mais longo do corpo humano, duas praticantes de yoga com uma diferença entre elas na forma como as respetivas cabeças dos fémures estão orientadas em relação ao corpo do fémur, podem expressar percepções completamente diferentes de conforto na posição sentada com as pernas cruzadas. Enquanto que para uma a posição sentada de pernas cruzadas pode estar imediatamente acessível e ser muito confortável para a outra essa mesma posição pode revelar-se muito exigente e precisar de algumas adaptações para ser minimamente confortável.

Para alguém que tenha os músculos da cadeia posterior muito encurtados, será mais difícil fazer corretamente uma posição como o paschimottanasana (posição sentada de flexão à frente), sendo que a tendência para forçar a flexão do tronco à frente nesta posição sem conseguir uma boa anteversão da bacia pode levar a uma excessiva compressão dos discos intervertebrais da coluna lombar.

O sirsasana (posição invertida sobre a cabeça) tem benefícios inegáveis, mas tem também um grande potencial para a lesão quando mal executado ou quando executado por alguém que não está devidamente preparada para o fazer. O comprimento do pescoço em relação ao comprimento do úmero (osso do braço) pode em determinados indivíduos representar uma proporção desajustada para a prática desta posição a menos que se façam modificações na abordagem à posição. Insistir nesta posição sem essas modificações de segurança pode por exemplo ao longo dos anos, levar à artrite degenerativa do pescoço.

Perceber a diferença entre superar um desafio e gerar um potencial para a lesão é fundamental. Conjugando uma atenta observação do corpo e sincero respeito pelos sinais que ele nos dá, com uma orientação informada e profissional por parte de quem está a ensinar, conseguimos superar os desafios que cada posição nos apresenta de forma segura e ajustada e dessa forma contribuir para a expansão da consciência.