Yoga e respiração

Quando alguém inicia a prática de Yoga, um dos aspetos que marca a relação com esta disciplina é o desenvolvimento de um contacto mais “íntimo” e consciente com a própria respiração.
Embora respirar seja essencialmente um processo automático (tronco cerebral e medula), pode ser também controlado de forma voluntária (córtex cerebral) [3] . Durante a exploração da respiração através dos exercícios e técnicas propostas no contexto da prática de Yoga, desperta-se a atenção para a consciência da respiração natural (automática) e para o desenvolvimento da respiração profunda (controlo voluntário). Entre outros aspetos, de encontro à forma mais natural e fisiologicamente mais correta de respirar, sugere-se na prática de Yoga o desenvolvimento de uma respiração consciente e nasal. Existem certamente exercícios com instruções diferentes em que pontualmente se faz recurso à respiração pela boca, mas são exceções circunscritas a práticas e objetivos específicos devidamente contextualizados. Num processo de conhecimento, aprofundamento e muitas vezes de reeducação da respiração, é essencial referir e realçar a importância de se respirar pelo nariz com a boca fechada.

A respiração pela boca

A boca deve ser utilizada para respirar em situações pontuais e específicas como:
– Em caso de congestionamento nasal temporário;
– Em caso de irregularidades anatómicas que impeçam o fluxo de ar nasal (ex. desvio do septo nasal);
– Em modalidades de exercício ou de terapia cuja instrução assim o indique por requisito da técnica utilizada.
Em relação à última situação, é importante perceber que a sugestão de respirar pela boca por requisito da técnica está limitada ao exercício específico ou terapia e não é o modo fisiologicamente correto para respirar fora daquele contexto. Se observarmos um bebé a dormir, respira calmamente pelo nariz.

A respiração fisiologicamente correta

Existe já uma vasta gama de literatura que menciona a relação entre a respiração nasal e o desempenho de processos cognitivos. Por exemplo, um estudo de 2016 [4] que pretendeu relacionar a respiração nasal com a resposta cognitiva a diferentes estímulos, refere que os indivíduos que participaram na investigação tiveram melhor desempenho em recordar memórias de objetos visuais quando confrontados com as imagens na fase da inspiração nasal do que durante a expiração. Um dos aspetos críticos desta investigação foi a descoberta de que a resposta cognitiva diminuía consideravelmente se o percurso da respiração fosse alterado para a respiração oral.
A ligação entre a respiração e o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) está também presente num artigo [5] que sugere que a respiração oral pode ter efeitos adversos no funcionamento cerebral . Neste estudo os investigadores observaram que durante a respiração oral, há um aporte maior de fornecimento de oxigénio na região do córtex pré-frontal, que pode ser uma causa de TDAH.
Publicado pela revista General Dentistry , um outro artigo [6] refere as consequências negativas da obstrução das vias respiratórias superiores (respiração oral) no crescimento facial das crianças. Este estudo indica que as crianças que respiram predominantemente pela boca desenvolvem um crescimento facial anormal; problemas de mal oclusão dentária e estão mais expostas a desenvolver desordens e apneia do sono. Em termos de crescimento facial, as crianças com respiração predominantemente oral, têm tendência para exibir em adolescentes/adultos, faces mais estreitas e alongadas, lábios superiores mais pequenos, palatos mais estreitos, uma dentição mais irregular e retrognatismo mandibular (uma posição mais posterior da mandíbula). É também característico uma expressão facial mais vaga e distante em crianças que respiram com a boca aberta.
Para além destes efeitos, acrescenta-se ainda o facto de a boca ser uma mucosa. O interior da boca é fisiologicamente quente e húmido. A constante respiração pela boca, irrita as mucosas, torna a boca mais seca e propícia ao desenvolvimento de bactérias que afetam a saúde geral da boca e dos dentes.
De acordo com o conhecimento disponível, existem razões suficientes para se estar atento à respiração, nomeadamente à respiração das crianças, para que desenvolvam o mais cedo possível a respiração correta – nasal – e se diagnostiquem outros problemas estruturais que impeçam a respiração pelo nariz.
Neste sentido, a prática de Yoga, continua a ser uma ferramenta de excelência para o desenvolvimento de uma respiração consciente e fisiologicamente correta, na qual é sistematicamente enfatizada a importância da respiração nasal.

Referências bibliográficas:

[3] Espanha, M., Silva, P., Pascoal, A., Correia, P., & Oliveira, R. (2007). Anatomofisiologia, Tomo III. Funções da Vida Orgânica Interna. Lisboa: FMH.

[4] Zelano, C., Jiang, H., Zhou, G., Arora, N., Schuele, S., Rosenow, J., & Gottfried, J. A. (2016). Nasal Respiration Entrains Human Limbic Oscillations and Modulates Cognitive Function. The Journal of neuroscience: the official journal of the Society for Neuroscience, 36(49), 12448–12467. doi:10.1523/JNEUROSCI.2586-16.2016

[5] Sano, M., Sano, S., Oka, N., Yoshino, K., & Kato, T. (2013). Increased oxygen load in the prefrontal cortex from mouth breathing: a vector-based near-infrared spectroscopy study. Neuroreport, 24(17), 935–940. doi:10.1097/WNR.0000000000000008

[6]Jefferson, Y. (2010).Mouth breathing: adverse effects on facial growth, health, academics, and behavior. General Dentistry. Jan-Feb; 58 (1): 18-25; quiz 26-7, 79-80. Review.